Capítulo 2 [Parte I] Olhava entediado pela janela do carro, vendo a paisagem passar gradualmente pelos vidros. O sono ainda nublava os seus sentidos não lhe permitindo acompanhar as conversas que se desenrolavam à sua volta. Estivera ansioso por aquele dia a semana toda mas a excitação não o deixara dormir durante aquela noite.
- Isso é tudo sono Harry?
Harry olhou para o lado, encarando o rapaz loiro e de olhos azuis que sorria matreiramente para ele.
- Mais ou menos, Niall. – respondeu com uma voz arrastada, denunciando o cansaço de uma noite mal dormida.
Não foi incomodado durante a restante viagem, entregue aos seus pensamentos. Quando a carrinha parou saiu mecanicamente do veículo e seguiu para o edifício que se erguia diante deles –
Royal Academy of Arts.Os One Direction, assim como Simon Cowell e vários representantes de produtoras musicais britânicas, haviam sido convidados a ver um pequeno espetáculo protagonizado pelos trinta novos alunos da academia, vindos de várias partes do globo. Tinham aceitado de imediato o convite, excitados perante a espectativa de ver novos talentos em ação.
Os corredores da academia estavam desertos. As aulas haviam-se iniciado há duas semanas e o toque de recolha para a primeira aula do dia já se havia feito ouvir.
Os cinco rapazes rumaram em direção ao auditório principal acompanhados pela diretora, que os havia recebido à porta, tagarelando alegremente sobre os novos alunos e sobre a certeza que tinha sobre o futuro brilhante que os esperava. Todos tentaram acompanhar educadamente a conversa, até mesmo Harry que sentia a sua névoa de sono dissipar-se aos poucos.
O auditório estava particamente vazio. Poucas cadeiras à frente eram ocupadas pelos representantes das produtoras convidadas. Um burburinho de fundo enchia o espaço, proveniente dos bastidores adjacentes ao grande palco ladeado por grossas e pesadas cortinas vermelhas. Um cenário estava montado, composto por uma estrutura metálica de andares e escadas. Um piano de cauda negro ocupava um dos lados do palco e as luzes coloridas piscavam incessantemente, indicando que estava a decorrer o teste de iluminação.
Os rapazes foram conduzidos às fileiras da frente, onde se sentaram confortavelmente.
- Isto vai ser divertido. – comentou Niall com um sorriso.
- Oh, vai ser ainda mais divertido quando eles daqui a um ou dois anos nos meterem ao bolso depois de toda a formação que aqui recebem. – reclamou Louis, fazendo um biquinho de falso amuo.
Liam soltou uma risada e bateu na nuca do mais velho.
- Estás é com inveja de não ter a formação que eles vão ter. – respondeu divertido.
Harry apenas balançou a cabeça, recostando a cabeça nas costas da sua cadeira e tentando resistir ao impulso de fechar os olhos e entregar-se à inconsciência.
Liliana batia o pé impacientemente no chão, sentada numa cadeira desconfortável, enquanto Teresa lhe fazia o penteado que não tivera tempo de fazer em casa. O seu cabelo estava ser preso no coque moderno que deixava escapar várias mechas do seu cabelo ligeiramente ondulado. As mechas seriam posteriormente enroladas para acentuar as curvas do seu cabelo.
Tiago e Nelson cantarolavam baixinho a música que apresentariam juntos, enquanto Rafael, de baquetas nas mãos, tocava uma bateria invisível. Mariana era a mais calma dos seis, limitando-se a estar sentada num canto com os olhos fechados enquanto cantarolava a melodia de
Poker Face na sua versão acústica.
A agitação nos bastidores era grande. Os alunos andavam de um lado para o outro, certificando-se de que tudo estava pronto para a apresentação.
Os seis amigos portugueses sentiam, em especial, uma grande pressão sobre si, pesando nas suas costas a responsabilidade de encerrar o espetáculo.
- Nervosos? – uma voz meiga chamou num inglês perfeito, chamando a atenção dos seis.
Nelson olhou para a rapariga e dedicou-lhe um sorriso meigo.
- Nada que não passe assim que pisarmos o palco, Mel.
Melissa Wilson era londrina. De estatura relativamente baixa, cabelos loiros cacheados e olhos castanhos, era a violoncelista referência, com os seus dezassete anos, da academia, estudando na mesma há quase dois anos. Fizera amizade quase imediata com os portugueses.
- Vai tudo correr bem. Vocês formam um grande grupo.
- Espero que todos pensem como tu. – sussurrou Liliana, quase não sendo ouvida pelos outros.
- Claro que pensam.
As luzes do palco acenderam pouco depois de Simon se sentar perto da banda britânica, dedicando-lhe um sorriso sob a forma de cumprimento, não havendo tempo para cumprimentos mais aprofundados.
A diretora da academia subiu a passos lentos para o palco, com um microfone na mão. Posicionou-se no centro antes de começar a falar:
- Sejam muito bem-vindos à apresentação dos novos aluno da
Royal Academy of Arts. – foram dados aplausos enquanto a mulher sorria – Os nossos novos alunos são das mais variadas nacionalidades e de um incontável talento. Irão apresentar-se nas várias áreas disponíveis na nossa academia, seja a solo, em duplas ou em grupo. Espero que eles vos conquistem como já conquistaram o corpo docente desta academia. Obrigada.
Mais um coro de aplausos fez-se ouvir enquanto a diretora se retirava.
As luzes do palco baixaram e os primeiros alunos apresentaram-se. Todos os alunos mostravam talento, arrancando sempre inúmeros aplausos dos espectadores. Após o térmito das suas apresentações os alunos deslocavam-se para as cadeiras da plateia.
Os rapazes da banda britânica observavam fascinados, apercebendo-se que a oportunidade que haviam recebido era mais grandiosa do que tinham imaginado no início. No palco, no decorrer de cada apresentação, eram novas estrelas que nasciam, novos artistas que iam enriquecer o mundo da arte.
O nervosismo parecia dominar cada célula do seu corpo, que era assaltado por pequenos tremores involuntários. Tentou respirar calmamente, falhando miseravelmente. O pânico começou a invadi-la.
- Hey. – uma voz suave chamou-a, fazendo-a levantar o olhar.
À sua frente Tiago estava ajoelhado, olhando para si com uma preocupação genuína enquanto as suas mãos procuravam as dela. Quando as encontrou apertou-as suavemente, fazendo-a relaxar quase que imediatamente.
- Nunca te vi tão nervosa antes de um espetáculo. O que se passa? – perguntou suavemente, enquanto fazia pequenos círculos nas costas das mãos da rapariga.
- Não sei. – respondeu num sussurro – Simplesmente não consigo controlar. E se alguma coisa correr mal? E se eu falhar uma nota? Basta falhar num pormenor para estragar tudo o resto. E não é só a minha apresentação, mas a de todos nós!
- Hey! Calma! – pediu Tiago, apercebendo-se do real estado de pânico em que a amiga se encontrava. Levantou uma das mãos, acariciando-lhe ternamente o rosto. – Tu não vais falhar nota nenhuma pequenina. Tu és a melhor cantora que eu já tive o prazer de ouvir. Não duvides do teu valor e do teu talento. E mesmo que falhes uma nota… Quem é que dá sempre a volta por cima nas situações complicadas em que nos metemos? – perguntou arrancando um pequeno sorriso de Liliana – Vai correr tudo bem. Nós estamos aqui contigo, eu estou aqui contigo.
Liliana abriu os braços e rodeou as costas de Tiago, aconchegando-se no seu peito. O calor que emanava do rapaz acalmava-a.
- Obrigada. – sussurrou – És o melhor irmão emprestado do mundo.
O rapaz abriu um sorriso abraçando Liliana.
- Não, tu é que és a melhor irmã emprestada do mundo.
Quase todos os alunos tinham passado pelo palco, faltando apenas seis dos trinta que se iam apresentar.
O burburinho crescia no auditório, provocado pelos alunos que já se haviam apresentado. A ansiedade crescia dentro do local.
Dois jovens altos entraram em palco. Um deles tinha cabelos e olhos claros, portando um pequeno sorriso, o outro exibia uma cabeleira ruiva desordenada e olhos esmeralda. Cada um com um microfone na mão, posicionaram-se calmamente no meio do palco, esperando o início da música.
Os primeiros acordes de
Viva la Vida encheram o ambiente prendendo logo a atenção dos cinco rapazes britânicos que rapidamente recuaram, nas suas memórias, aos seus primórdios como banda.
O dueto iniciou-se com Tiago que rapidamente arrancou suspiros da plateia feminina com a sua voz profunda. Nelson não ficou atrás quando iniciou a sua parte. No refrão as suas vozes confundiram-se numa explosão de ritmo e movimento, levando ao rubro a plateia.
- Ouçam e aprendam. – Simon provocou a banda britânica sentada ao seu lado.
- Nós não cantamos assim tão mal. – resmungou Niall, desgostoso.
A plateia acompanhava a música, cativada pelos dois rapazes portugueses.
- Eles são bons. – acabou por comentar Harry algum tempo depois, acompanhado a batida da música com o batocar dos seus dedos.
A música terminou com uma explosão de aplausos, deixando eufóricos os dois rapazes em cima do palco, que saíram agradecendo e pulando.
- Vocês foram incríveis! – gritou Mariana atirando-se a Tiago que a agarrou rindo. – Estou tão orgulhosa. – disse dando de seguida um beijo a Tiago.
- Arg! – Rafael fez uma careta – Vocês têm mesmo de fazer isso em público, pombinhos?
Mariana largou Tiago contrariada, mostrando, num gesto claramente maduro, a língua ao amigo.
- Bem… Parece que é a nossa vez. – disse Teresa com um sorriso, dirigindo-se a Rafael.
- Vamos lá arrasar com isto!