If we could only turn back time

Falta um capítulo para acabar :c

Passaram-se três dias desde aquele dia que ficará para sempre gravado na minha memória. Não tenho saído do meu quarto, não tenho comido em condições e não tenho falado com ninguém. Nem com o Harry, nem com Elenor e nem com o Zayn. Ele costuma visitar-me todos os dias. Deita-se na cama comigo, a encarar o teto e abraça-me cada vez que as lágrimas teimam em escapar dos meus olhos. Raramente saio da cama, apenas em casa extremos como é o caso de ir à casa de banho ou quando a forme aperta em demasia. Pensando bem já não como desde o almoço de ontem. Não tenho ligado a televisão porque os cinco minutos em que a liguei noutro dia não paravam de falar sobre a morte do Liam. Também não tenho atendido chamadas nem lido sms. Pedi ao Harry para que deletasse todas as minhas contas nas redes sociais. Estava isolada do mundo.

Hoje acordei com uma sensação estranha, como se tudo fosse normal, como se o Liam estivesse mesmo ali, ao meu lado. Levantei-me, atei o cabelo e lavei a cara com água bem gelada. Depois abri a janela do meu quarto e inspirei bem fundo, não sentia o ar fresco na minha face há algum tempo, tinha saudades. Troquei os lençóis da minha cama e coloquei-os num monte ao fundo da cama. Depois despi-me, mandei as roupas sujas para o monte dos lençóis e entrei para a banheira enquanto a água quente escorri-a pelo meu corpo nu. Quando acabei o banho, enrolei-me numa toalha e vesti-me (http://data.whicdn.com/images/38145581/tumblr_masrssCJPg1rx3ve8o1_500_large.png) no quarto. Depois de me certificar que tinha tudo na minha bolsa, peguei nela e no monte de lençóis e roupa suja, e, fui até à sala. Deixei a mala no sofá e meti a roupa toda a lavar. Peguei num iogurte e fiz torradas.

- London? – Alguém tinha acordado. Olhei para trás e vi que era o meu irmão.

- Bom-dia Harold. – Disse bebendo o iogurte.

- Onde vais?

- Vou ao jornal. Tenho de entregar aquele trabalho em atraso e vou trabalhar. – Disse.

- Queres que te leve lá?

- Não, vou de autocarro.

Arrumei a cozinha e ainda fiz o pequeno-almoço ao Harry. Depois fui ao quarto dos rapazes, tenho de falar com o Louis.

- Louie, se a Els ligar diz que fui trabalhar. – Disse acordando-o.

- Ok.

Dei-lhe um beijo na bochecha e deixei-o continuar o seu sono. Peguei na mala, despedi-me do Harry, antes de sair disse para não me esquecer do compromisso que tínhamos à tarde. Desci pelo elevador. Caminhei até à paragem de autocarro e esperei uns dez minutos para que o autocarro certo chegasse. Quando me sentei uma rapariga dirigiu-se a mim.

- London, como te sentes, como tudo o que aconteceu?

- Bem. – Não queria falar mais.

Não me sentia bem, mas essa é a resposta que todas as pessoas esperam ouvir quando perguntam como nos sentimos. Elas na verdade perguntam como estamos mas quando respondemos já não estão a ouvir a resposta, sempre pensei assim e é a pura das verdades.

Saí a dois blocos do jornal e quando entrei a rececionista cumprimentou-me. Acenei-lhe de volta e subi no elevador. Assim que entrei nos escritórios todos me olhavam como se tivesse algo escrito na minha testa. Tirei o meu trabalho da mala e entrei no gabinete da diretora. Poisei-lhe o trabalho na mesa e preparei-me para sair. Não tinha nada para lhe dizer.

- Este é aquele trabalho em atraso? Ainda bem que o entregaste! Não vieste trabalhar nos últimos três dias, será descontado no teu ordenado. – Fez uma pausa ao ver que não lhe respondia. – Bom, quero que escrevas sobre a morte daquele integrante da banda.

Olhei-a surpreendida.

- Não. – Respondi.

- Não o quê? Recusas-te a escrever sobre o que te peço?

Acenei afirmativamente, não me apetecia falar.

- Se não escreveres, podes ir para casa e não nunca mais voltar. É isso que queres? – Perguntou-me num tom ameaçador.

- Sim.

- Sim? – Disse gritando comigo.

- Sim. – Às vezes respostas de uma palavra só eram o suficiente.

Sentou-se à secretária e passou-me um cheque. Deu-mo e virei costas, mas antes recuperei o meu trabalho e guardei-o de novo na mala. Dirigi-me à minha secretária, peguei nas minhas coisas e saí sem me despedir de ninguém.

Caminhei lentamente por entre a multidão, com uma pequena caixa de cartão cheia de coisas. Entrei num café no centro da cidade e pedi um café forte. Poisei a caixa aos meus pés e beberiquei o café enquanto olhava para as pessoas que passavam entretidas na sua rotina diária. Depois pensei em como a minha vida mudou num ano e pouco. Suspirei e o meu telemóvel começou a tocar. Atendi, era o Zayn.

- Onde estás? Vim a tua casa e o teu irmão disse que foste ao jornal. Fui ao jornal e disseram-me que tinhas saído.

- Despedi-me.

- Porquê? – Perguntou-me.

- Porque senti que era o melhor a fazer.

- Posso ir ter contigo? – Outra pergunta mas num tom mais cauteloso.

- Gostaria muito, vai ter ao parque da cidade.

Desliguei e acabei de beber o café. Paguei e saí a pé em direção ao parque, apenas uns cinco minutos a pé. Quando cheguei ao grande portão do parque reparei no carro do Zayn, mas ele não estava lá. Entrei e segui pelo caminho principal, num banco mesmo em frente ao lago vi o Zayn. Ele não me viu por isso, caminhei silenciosamente até ele. Estava tão concentrado num ponto imaginário que também não deu pela minha chegada. Sentei-me no banco, coloquei uma mão na sua face e puxei-o para um beijo.

- Não dei por ti, desculpa. – Disse-me.

- No que pensavas?

- Nele. – Sabia que se referia ao Liam.

- Também tenho pensado muito nele. – Confessei.

Pegou na minha mão, beijou-ma e colocou-a sobre a sua perna. Os nossos dedos entrelaçados eram como uma chave na sua fechadura. Encostei a minha cabeça ao seu ombro e ficámos ali os dois a olhar para o lado e a pensar como iriamos sobreviver sobre a alegria do Liam por perto.

***

Depois de me ter vestido, encaracolei o cabelo, como o Liam tanto gostava. Arrumei tudo o que precisava na minha mala e esperei na sala pelo Louis, ele era pior que uma rapariga a arranjar-se.

Fizemos o nosso longo caminho para o cemitério em silêncio, nada havia para dizer. Mais uma vez a única coisa em que conseguia pensar era em que tudo tinha acontecido por minha causa. Devia ser eu no lugar do Liam hoje, devia ser eu! Sinto uma grande dificuldade ao respirar assim que saio do carro.

Foi difícil passar por todas as fãs e pelos fotógrafos, mas foi ainda mais difícil chegar ao pé da família e dos amigos do Liam. Na primeira fila das cadeiras estavam os pais e as irmãs, acho que uns tios também. Logo na segunda fila estava eu com o Harry, o Zayn, o Niall, o Louis e a Elenor. Agarrei-me com força à mão do Zayn e chorei silenciosamente. Momentos depois o padre começou o seu discurso. O sol brilhava lá no alto e sentia-me como se tivesse em casa, como se nunca tivesse acontecido. Limpei as lágrimas e comecei a ouvir o padre.

“Estamos aqui reunidos hoje, para relembrar e honrar a curta vida de Liam James Payne. Maior parte podiam o conhecer por um jovem tímido e reservado, mas os que o conheciam bem sabiam que ele amava, era um rapaz com sonhos, como todos nós, mas, acima de tudo isso, era um rapaz com esperança e um calor natural que fazia todos se sentirem como se tivessem em casa...”

Continua

Aqui está o último capítulo!
Peço desculpa por algum erro s:
Espero que gostem e agradeço do fundo do meu coração por terem acompanhado esta ficção até ao fim

Passaram-se tantos anos que até já lhes perdi a conta. Não os consigo contar pelos dedos das mãos, mas se a memória não me falha pelo menos uns setenta. Conto agora com noventa e um anos. Não me consigo mexer como gostaria mas não dispenso um belo passeio de vez em quando. Olhando para trás percebo que desperdicei demasiado tempo e arrependo-me disso. Passei demasiado tempo a culpar-me por algo que não tinha culpa. A culpa tinha sido do outro condutor que ia embriagado. Quando percebi que a culpa não tinha sido minha, um enorme peso saiu sobre os meus ombros. Nunca o esqueci e nunca o esquecerei, sei disso, mas ficou tudo diferente. Depois de tomar banho, e tomar um pequeno-almoço reforçado, desci de elevador para o meu passeio matinal. Sou uma das últimas a habitar naquele prédio.
Ainda moro no mesmo último andar desde os meus dezoito anos, e, não pretendo sair. Em redor, agora, só há arranha-céus e prédios coloridos estrambólicos.

Caminhei até em bloco seguinte com as mãos entrelaçadas atrás das minhas costas. O meu paço era lento e observava as pessoas que passavam apressadamente. Passei pelo antigo Starbucks, onde apenas há teias de aranha e jornais colados nos vidros. Há sessenta e poucos anos que leio o mesmo artigo todos os dias. “Morte do cantor Liam Payne, da banda One Direction, marca milhares de corações”. Desde que aconteceu o que aconteceu, a banda separou-se, cada um para seu lado. Davam-se perfeitamente, falavam e continuámos a sair todos juntos, mas, não conseguiam continuar um projeto de cinco apenas com quatro elementos.
Depois de me despedir do jornal, arranjei outro emprego num jornal mais pequeno. O Niall comprou um armazém e transformou-o num restaurante, ajudei com o nome e acabou por se intitular de “Niall’s Place”. O Harry e o Louis entraram para a faculdade a ambos tiveram uma longa carreira como professores. Por fim, mas não menos importante, o Zayn trabalhou como arquiteto.

Uma vez por mês costumavam-se reunir num pub local e interpretavam umas músicas e nem sabem o quanto eu gostava daqueles dias!

O Niall casou-se como uma rapariga da terra dele que conhecia desde criança, tiveram uma filha linda. Loira, olhos verdes, estatura média e encantadora. O Harry casou-se com uma amiga em comum, fui a madrinha de casamento. Tiveram gémeos! Quando me disseram que tal tinha acontecido, achei muita piada, mas quando os tinha de distinguir era trabalho árduo. O Louis casou-se com a Elenor, tiveram um filho e uma filha.
Ambos lindos, morenos e ambos com o bom humor do pai. Só falto eu e o Zayn, que nos casámos quando eu tinha vinte e quatro anos. Tivemos uma filha. E agora tenho uma neta, muito irrequieta, mas é próprio das crianças de quatro anos.

Se não fosse a minha filha e a minha neta, estaria completamente sozinha. O primeiro a abandonar-me foi o Louis, seguido pelo Niall e pela Elenor. O Zayn foi a seguir e por fim o meu irmão. Quando eles faleciam era como se um pedaço de mim morresse também.

Quando voltei a casa, tratei do almoço. A minha família viria almoçar. Mal ouvi a campainha, coloquei o último copo na mesa e abri a porta.

- Olá vó! – Disse a minha neta agarrando-se à minha perna.

Depositei-lhe um beijo na testa e logo me largou e correu para o cesto de brinquedos que estava na sala perto da televisão. A minha filha abraçou-me e entrou. Servi o almoço e sentámo-nos à mesa.

- Como tem andado mãe? – Perguntou-me.

- Bem, sabes que já não sou propriamente nova, mas, tenho andado bastante
bem. Sinto-me cansada, mas este tempo também não tem ajudado nada.

Depois de almoço arrumei a cozinha e sentei-me no sofá a brincar com Annie, enquanto a minha filha foi às compras. Na televisão estava a dar um filme bastante velho, lembro-me de vê-lo quando era nova.

Quando a minha filha chegou sentou-se por uns minutos mas teve de voltar para casa, tem vida própria, e compreendo.

- Se precisar de alguma coisa, ligue-me! – Disse despedindo-se.

Anui com a cabeça e acenei-lhes enquanto aporta do elevador se fechava. Arrumei a sala e deitei-me no sofá para uma breve sesta. Quando acordei já era tarde, tinha passado a hora do jantar e decide não comer nada pesado. Fiz uns flocos de aveia e bebi uma chávena de chá. Depois das dez da noite, vesti o pijama e deitei-me. Sentia-me estranhamente cansada. Queria dormir, mas, tinha uma má sensação. Olhei para a janela e observei a luz que entrava pelos buracos da preciana. Fechei os olhos e sabia que já não os voltaria a abrir.


- London! – Gritou-me uma voz familiar.

Voltei-me na imensidão branca e encontrei o Liam. Estava exatamente igual como quando tinha dezanove anos. A minha boca abriu-se num perfeito “O” e corri para ele. Conseguia correr!

- Liam! – Gritei abraçando-me a ele.

- E a mim já não se fala? – Ouvi o Zayn a falar por de trás de mim.

Virei-me a abracei-me a ele inalando o seu perfume.

- Mas ... Mas estás tão novo!

Porque é que eles estão assim? Como se tivéssemos recuado no tempo.

- Já olhas-te para ti?

Apareceu um espelho como que por magia e a minha jovem cara refletiu-se
automaticamente. Toquei na minha pele lisa e sorri.

- Vocês estão aqui! – Disse para ambos.

- Não somo só nós. – Como era bom ouvir a voz do Liam.

O Zayn voltou-me e avistei o meu irmão, o Niall, o Louis e até mesmo a Elenor. Corri para eles e abracei-me a cada um deles. Tinha tantas saudades.

- Tinha tantas saudades vossas! – Disse chorando.

O Liam agarrou-me na mao e limpou-me as lágrimas.

- Isso não importa mais. Agora, estás connosco...


Digam o que disserem, se há coisa que não se esquece é o nosso primeiro amor. Eu tive o meu, enquanto adolescente instável e rebelde.
Talvez um pouco desajeitado, mas amor é amor.